Lomadee, uma nova espécie na web. A maior plataforma de afiliados da América Latina.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Curvas de lactação em vacas leiteiras

Fonte: MILKPOINT
Na atividade leiteira, a produção de leite é a característica de maior importância econômica, e neste contexto, é imprescindível que pesquisadores forneçam aos criadores as informações necessárias para promoverem o aprimoramento genético dos seus rebanhos. Sendo assim, por meio de estudos de curvas de lactação, este aprimoramento pode ser obtido de maneira prática e consistente.

A curva de lactação é uma representação gráfica da variação da produção de leite diária de uma fêmea leiteira em função da duração da lactação e pode ser utilizada para estimar a produção de leite em qualquer período ou no transcorrer da lactação.

O conhecimento do comportamento das curvas de lactação de um rebanho auxilia na adequação de técnicas de alimentação e manejo, no descarte e na seleção de animais, de acordo com um padrão desejável, preestabelecido conforme a capacidade de produção (Gonçalves, 1994). Dessa maneira, a comparação da forma da curva entre grupos distintos de animais, com diferentes composições raciais, idades ao parto, rebanhos e outros tratamentos de interesse é de grande importância, pois mediante essas comparações, podem ser obtidas informações sobre a eficiência desses grupos propiciando um melhor controle da produção (Groenewald & Viljoen, 2003).

Sabe-se que uma curva de lactação típica apresenta uma fase crescente, que se estende até cerca de 35 dias após o parto; uma fase de pico, representada pela produção máxima observada, seguida de uma terceira fase de declínio continuo até o final da lactação. Porém, existem certas características da curva de lactação que determinam sua forma, tais como a persistência e o pico da lactação.

Existem diferentes definições da persistência da lactação encontradas na literatura, entre elas, a extensão pela qual a produção máxima na lactação é mantida (Wood, 1967); a habilidade do animal em manter mais ou menos constante a produção de leite durante a lactação (Gengler, 1996); o número de dias em que um nível constante de produção de leite é mantido (Grossman et al., 1999) e a expressão da capacidade da vaca em continuar a produzir leite nos níveis de produção do pico em toda a lactação (Tekerli, 2000).

Uma vaca apresenta lactação mais persistente, comparada a outra com produção equivalente, se possuir pico mais baixo e, por conseguinte, um formato da curva de lactação mais achatado. Este fato resulta na distribuição mais equilibrada da produção de leite no decorrer da lactação (Gengler, 1996).

Além disso, a persistência na lactação está diretamente relacionada a aspectos econômicos da atividade leiteira, pois sua melhoria pode contribuir para a redução de custos no sistema de produção (Tekerli et al., 2000; Jakobsen et al., 2002). Ao avaliarem os aspectos econômicos relacionados com a persistência da lactação, Dekkers et al. (1998) relataram que o valor econômico dessa característica é influenciado pelos custos com alimentação, saúde e reprodução animal, assim como pelo retorno econômico obtido pela produção adicional de leite, devido ao aumento da persistência da lactação dos animais.

Vacas com curvas de lactação mais persistentes têm necessidade energética mais constantes em toda a lactação, permitindo a utilização de alimentos mais baratos (Dekkers et al., 1998), ou seja, para um mesmo nível de produção de leite, vacas que apresentam curva com menor inclinação na produção, podem se manter melhor com dietas de menores custos que aquelas com produção diária mais elevada durante o início da lactação.

Vacas com curvas de lactação mais planas estão sujeitas a menor estresse fisiológico, devido à ausência de produções elevadas no pico de lactação, o que minimiza a incidência de problemas reprodutivos e de doenças de origem metabólica, contribuindo, consequentemente, para a diminuição de custos no sistema de produção (Grossman et al., 1999; Tekerli et al., 2000).

Adicionalmente, as curvas de lactação com maior persistência podem influenciar, de forma positiva, a longevidade dos animais e adiar o período de tempo médio para o descarte voluntário.

Há indicativos da existência de diferenças genéticas, para persistência na lactação, entre animais, razão pela qual a seleção, para esta característica, pode ser vantajosa (Tekerli et al., 2000).

Além da persistência da lactação, outro parâmetro importante é o pico de lactação, sendo definido como a produção máxima alcançada na lactação. Com o uso deste conceito, Gonçalves et al. (2002), num estudo com vacas Holandesas no Estado de Minas Gerais, observaram que tal pico de produção ocorreu, aproximadamente, 38 dias após o parto.

Já Cobuci et al. (2004), também trabalhando com lactações de animais da raça Holandesa, relataram que o pico de lactação ocorreu entre 60 e 90 dias de lactação, parecendo, portanto haver, mesmo dentro da mesma raça considerável variação. Considerando-se ainda vacas zebuínas ou mestiças, tal pico pode-se apresentar no primeiro dia da lactação, ou seja, iniciando na produção máxima com ausência da fase de inclinação do parto ao pico (Papajcsik & Bodero, 1988). Tal fato também foi reportado na raça Gir por Rebouças et al. (2008).

Deve-se levar em consideração que nem todas as vacas ou grupo de vacas têm curvas de lactação iguais, pois além do componente genético, a magnitude dos parâmetros que determinam sua forma varia segundo a influência de diferentes fatores, como a ordem de parição, a idade da vaca e a estação de parição; sendo maior a persistência em vacas primíparas que em vacas multíparas de 3ª e 4ª lactação (Tekerli et al., 2000; Cobuci et al., 2001).

Dados apresentados por Tekerli et al. (2000) sobre animais Holandeses, na Turquia, mostram que o pico e a produção da lactação de vacas primíparas foram, respectivamente de, 26,6 kg e 6.220 kg. Para vacas de segunda parição, a produção no pico foi de 30,3 kg, enquanto a produção total foi de 6.693 kg. Para as ordens de parição maiores que dois, os animais produziram 30,5 kg no pico e 6.710 kg no final da lactação, demonstrando que animais multíparos possuem maiores produção no pico e produção total de leite quando comparados a animais primíparos.

Trabalhando com vacas Holandesas nos Estados Unidos, Dematawewa et al. (2007) observaram que animais de primeira ordem de parto com duração da lactação de 305 dias tiveram produção média no pico de 33,3 kg, o qual ocorreu aos 94 dias; para os animais de terceira ordem de parição ou maior, também com duração de 305 dias de lactação, a produção no pico foi de 44,3 kg e ocorreu aos 51 dias.

Com relação a estação de parição, esta envolve fatores que têm influência direta sobre o animal ou sobre o sistema de produção. Dentre estes fatores citam-se temperatura, luminosidade, umidade, qualidade e disponibilidade de alimentos, manejo, os quais são causadores de variações na forma da curva de lactação e na produção total.

No estudo realizado por Madalena et al. (1979) com animais Holandeses e cruzados Holandês X Gir, observou-se que vacas paridas na estação chuvosa apresentaram produção inicial maior e maior taxa de declínio, ou seja, menor persistência que as paridas na estação seca. No entanto, para Freitas et al. (1983) a maior produção foi verificada para vacas paridas na seca em estudo feito por com gado Holandês, no estado de São Paulo.

Segundo estudo realizado por Tekerli et al. (2000) com vacas Holandesas na Turquia, maiores pico e produção na lactação foram verificados para animais que pariram no outono e no inverno. Para estes autores, a relação entre estação de parição e pico de produção pode ser resultado do aumento da temperatura e da diminuição de forragens, especialmente no verão.

Em estudo sobre curvas de lactação de vacas F1 Holandês-Gir, Oliveira et al. (2007) constataram que a diferença da produção de leite entre lactações iniciadas na época da seca e das águas foi de 1,6%, favorável à primeira, fato justificado pelo melhor manejo nutricional adotado nessa época. Concluíram que houve pouca diferença entre o formato das curvas de lactação de vacas paridas nas épocas seca e das águas.

Portanto, no intuito de aumentar a produção de leite e, consequentemente, os retornos econômicos da atividade, a melhoria do nível de persistência na lactação das vacas, pode gerar ganhos indiretos na vida útil desses animais, na diminuição dos gastos com alimentação e tratamento de doenças, e na melhoria da eficiência reprodutiva dos animais.

Logo, o conhecimento da curva de lactação pode contribuir para o melhor entendimento e manipulação do sistema de produção, pois pode auxiliar o produtor na identificação de quedas bruscas de produção, respostas a dietas e manejo. E acima de tudo, identificar precocemente vacas potencialmente superiores para os diferentes sistemas de produção, com vistas ao melhoramento genético do rebanho leiteiro.
AUTORES: Mary Ana Petersen Rodriguez
Zootecnista, Doutoranda do PPG Ciência Animal e Pastagens, LZT, ESALQ/US
Gerson Barreto Mourão
Zootecnista, Professor Doutor de Genética e Melhoramento Animal, LZT, ESALQ/USP
Tarcisio de Moraes Gonçalves
Zootecnista, Professor Doutor de Genética e Melhoramento Animal, Dep. de Zootecnia, UFLA

Bibliografia consultada:

COBUCI, J. A.; EUCLYDES, R. F.; COSTA, C. N.; LOPES, P. S.; TORRES, R. de A.; PEREIRA, C. S. (2004) Revista Brasileira de Zootecnia, 33 (3): 546-554.

COBUCI, J. A.; EUCLYDES, R. F.; TEODOR, R. L.; VERNEQUE, R. da S.; LOPES, P. S.; SILVA, M. de A. (2001) Revista Brasileira de Zootecnia, 30 (4): 204-211.

DEKKERS, J. C. M.; TEM HAG, J. H.; WEERSINK, A. (1998) Livestock Production Science, 53 (3): 237-252.

DEMATAWEWA, C. M. B.; PEARSON, R. E.; VANRADEN, P. M. (2007) Journal of Dairy Sciense, 90 (8): 3924-3936.

FREITAS, M. A. R.; LOBO, R. B.; NAUFEL, F.; DUARTE, F. A. M. (1983) Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 35 (4): 575-590.

GENGLER, N. (1996) Interbull Bulletin, 12: 97-102.

GONÇALVES, T. M. (1994) Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa, MG, Brasil.

GONÇALVES, T. M.; OLIVEIRA, A I. G.; FREITAS, R. T. F.; PEREIRA, I. G. (2002) Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, 31 (4): 1689-1694.

GROENEWALD, P. C. N.; VILJOEN, C. S. (2003) Journal of Agricultural Biological and Environmental Statistics, 8 (1): 75-83.

GROSSMAN, M.; HARTZ, S. M.; KOOPS, W. P. (1999) Journal of Dairy Science, 82 (10): 2192-2197.

JAKOBSEN, J. H.; MADSEN, P.; JENSEN, J.; PEDERSEN, L. G.; CHRISTENSEN, L. G.; SORENSEN, D. A. (2002) Journal of Dairy Science, 85 (6): 607-1616.

MADALENA, F. E.; MARTINEZ, M. L.; FREITAS, A F. (1979) Animal Production, 29 (1): 101-107.

OLIVEIRA, H. T. V.; REIS, R. B.; GLÓRIA, J. R.; QUIRINO, C. R.; PEREIRA, J. C. C. (2007) Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 59 (1): 233-238.

PAPAJCSIK, I. A.; BODERO, J. (1988) Animal Production, 47 (1): 201-207.

REBOUÇAS, G. F.; GONÇALVES, T. M.; MARTINEZ, M. L.; AZEVEDO, J.; KOOPS, W. (2008) Revista Brasileira de Zootecnia, 37 (7): 1222-1229.

TEKERLI, M.; AKINCI, Z.; DOGAN, I.; AKCAN, A. (2000) Journal Dairy Science, 83 (6): 1381-1386.

WOOD, P. D. P. (1967) Nature, 216 (5111): 164-165.]

Nenhum comentário:

Postar um comentário